Já pela segunda vez em dois meses que me deparo com um texto interessante que aborda em partes o mesmo tipo de preocupação que se trata do aumento do número de participantes e o aumento do número de eventos relacionado as “corridas” de rua (meio fundo e fundo) em Portugal. Sendo assim, podemos perceber que este se trata de um tema pertinente e actual e que nos dá possibilidade de ver por diversos ângulos.

Ainda esta semana em uma reunião com um organizador de eventos falávamos justamente sobre esta realidade contraditória do aumento abrupto de participantes e o não aumento proporcional de grandes corredores “atletas” com um nível de qualidade competitiva mais elevado em Portugal.

De fato até nisso podemos ver que quantidade não é sinónimo de qualidade e ai sim que centro muito das minhas preocupações enquanto educador e motivador de práticas saudáveis no âmbito do exercício físico e neste caso a corrida em especial.

Algumas vezes pessoas mais próximas questionam-me o porque não participo ou não fomento a participação de alguns eventos. Neste sentido procuro logo rectificar que pouco ou nada tenho à ver com os organizadores destes eventos e de uma forma delicada, justifico inicialmente por reconhecer a importância de pessoalmente se elaborar um calendário que respeite minimamente um período de preparação adequada para assim se poder desfrutar das provas de forma minimamente prazerosa e segura. E neste caso vejo – não com bons olhos – este número crescente até um pouco exagerado de eventos e provas relacionadas com a corrida muitas vezes até sem um sentido realista e plausível motivados por likes e partilhas nas redes sociais.

Penso que existe sim uma confusão de conceitos, valores e responsabilidades no meio disto tudo, na qual mistura-se: o fracasso como sendo exemplar, o ativismo físico em prol do exercício físico, o “treino” sem um enquadramento temporal, o acompanhamento técnico sem fundamentação e formação, os movimentos do mexa-se de qualquer jeito ou do corra-corra de qualquer forma que você consegue mesmo não estando preparado para tal, ou a crença – que vai e vem – sem consciência de que a corrida é o desporto mais completo ou de que simplesmente correr (fazer quilómetros) é o suficiente, ou ainda imaginar que a participação de uma prova ali e outra aqui é o que vai lhe garantir os benefícios a que uma pratica regular e controlada de exercício físico neste caso a corrida é capaz de produzir.

Pronto se for pra ser assim estamos “a meter os pés pelas mãos” como se diz.

Em fim, como vemos, parece que o apoio técnico especializado, comprometido e responsável mais uma vez faz todo sentido no meio desta realidade confusa e por vezes carregada de interesses puramente comerciais é preciso sim haver um comprometimento mais contínuo com propostas equilibradas, caso contrário ainda teremos de ver essas confusões crescendo cada vez mais.

Penso que o mundo precisa de pessoas que façam menos mas com qualidade do que mais e de qualquer jeito.

Prof. Dênis Quadros
Ms. Treino de Alto Rendimento Desportivo
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