Poucos sabem, mas o estudo que realizei durante o mestrado e que depois mais tarde vim a publicar teve como interesse central analisar o efeito da fadiga muscular na estabilidade da articulação do joelho durante a recepção ao solo Quadros (2010). Isto obrigou-me a realizar uma revisão sistemática sobre tudo que envolve esta articulação. E como consequência, fui aprendendo e entendendo algumas questões importantes, coisas que devemos levar em conta sempre na hora de prescrevermos treinos, e uma delas é com relação aos joelhos. Desde então reparo muitas vezes em situações que envolvem atitudes iguais a estas que mostram na figura, conhecidas como: valgismo (joelhos projectados para dentro) varismo (joelhos projectados para fora).
O joelho está como uma das articulações mais complexas do corpo humano sendo nos ligamentos cruzados, principalmente no Ligamento Cruzado Anterior (LCA) que se localiza o ponto fulcral da cinemática da articulação.
O valgismo acentuado e a hiper-laxidez constitucional são factores que favorecem o aparecimento precoce de episódios de instabilidade. Esta carga em valgo aumenta a força aplicada no LCA, pois pode aumentar a translação anterior da tíbia. Um joelho valgo, também predispõe a lesões meniscais e a síndroma de hiperpressão externa da articulação fémuro-tibial. Hewett et al. (2005), Aires e Horta (1995).
Neste caso cabe destacar também que as mulheres são as que mais sofrem com este tipo de instabilidade na articulação do joelho e como consequência são as que mais sofrem com dores, artrite e lesões de LCA. Neste sentido parece haver três grandes contribuições e que estão na origem para esta disparidade entre os sexos na lesão do LCA entre eles temos, factores anatómicos, factores hormonais e factores neuromusculares dentre estes o padrão de activação muscular retardado nos músculos posteriores da coxa (isquiotibiais) e o desequilíbrio de força muscular especialmente entre musculatura anterior (quadríceps) e posterior (isquitibiais) da coxa. Neste sentido o controle neuromuscular deficiente ou anormal da biomecânica da articulação do joelho mostra-se como o principal contribuinte para o mecanismo de lesão do LCA e de artrose a longo prazo principalmente em mulheres. Myer et al. (2010)
Portanto ai está mais uma importante justificativa do incremento do treino de força no sentido da prevenção da saúde e da melhoria performance. Seja na corrida ou qualquer outro desporto a programação adequada que respeite principalmente a individualidade de cada praticante deve combinar treinos de força, pois o desenvolvimento e o aprimoramento das capacidades físicas, relacionadas às estruturas neuromusculares, são essenciais para qualquer modalidade desportiva, não sendo diferente para a corrida, mesmo esta sendo uma actividade de características aeróbias (alto consumo de oxigénio).
Bons treinos!
Prof. Dênis Quadros
Ms. Treino de Alto Rendimento Desportivo
Fique em forma com a Athlon Esportes e siga-nos no
facebook.com/athlonpersonal
Quadros, D.; Almeida,B.; Pinheiro, C. Efeito da realização de um jogo de futebol nas características cinemáticas do joelho na recepção ao solo. Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal – Rev Port Cien Desp 11(Supl.4) 31-105 pág 76-77
Hewett, T. E., Myer, G. D., Ford, K. R., Jr., R. S. H., Colosimo, A. J., McLean, S. G., et al (2005). Biomechanical measures of neuromuscular control and valgus loading of the knee predict anterior cruciate ligament injury risk in female athletes. The American Journal of Sports Medicine, 33(4), 492-501.
Aires, L., & Horta, L. (1995). Biomecânica segmentar na traumatologia do futebol. In L. Horta (Ed.), Prevenção de lesões no desporto. (2 ed., Vol. 15). Lisboa: Editorial Caminho.
Myer, G. D., Ford, K. R., Khoury, J., Succop, P., & Hewett, T. E. (2010). Biomechanics laboratory-based prediction algorithm to identify female athletes with high knee loads that increase risk of ACL injury. British Journal of Sports Medicine, 1-9.
SET